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sábado, 29 de agosto de 2015

Livros que Lí em 2015: Os Iranianos, de Samy Adghirni


A visão que tinha do Irã era de uma nação radical, extremista e fechada. Afinal de contas, lá temos uma teocracia, os direitos humanos não são respeitados, e existe um programa de enriquecimento de urânio que pode levar o país a ter uma bomba atômica.  Após ler Os Iranianos, do jornalista Samy Adghirni, primeiro jornalista brasileiro a morar no país, minhas impressões mudaram. Não que alguns desses problemas não existam, porém, a nação encravada no coração do Oriente Médio, banhada, em parte pelo Golfo Pérsico, e em parte pelo mar Cáspio, é muito mais que isso.

Para início de conversa, os iranianos são muito parecidos, guardadas as devidas proporções, com os brasileiros em alguns aspectos. São supersticiosos e muito religiosos (não é atoa que é uma Teocracia, porém parte da população é secularizada), hospitaleiros, se alimentam relativamente bem, e tem uma população ativa em exercícios físicos e esportivos, sem falar no esporte que é paixão nacional, o futebol!
Eles tem uma ideia de grandeza de si mesmos, se orgulham de sua história, afinal ao longo de 4 mil anos foi sede de grandes impérios, como o Persa e o Aquemênidas. Atualmente, pode ser considerado um país moderno, considerado uma nação de classe média, no qual tem uma saúde pública melhor que a brasileira, assim como o IDH (76º, enquanto o Brasil está na 85º colocação). Os salários são baixos, porém o governo subsidia parte dos combustíveis, dos transportes público e a educação. Na educação, tem uma taxa de alfabetização e escolaridade considerada alta para níveis regionais, e no ensino superior, destaca-se na arquitetura. Porém, um problema constante é a chamada “fuga de cérebros”, que consiste na saída desses profissionais para o exterior, principalmente para os E.U.A.
Curiosamente, esse antiamericanismo exacerbado pelo regime islâmico é fruto mais de propaganda e se restringe ao governo, pois, parte da elite local simpatiza com os norte-americanos e envia seus filhos para estudarem no país.
Geograficamente é um país de contrastes, com montanhas e desertos, com somente 11% das terras agricultáveis. O clima também é extremo, com neve no inverno, principalmente na região de Teerã, e muito calor nas regiões desérticas. Foi lá no deserto de Dasht-e-Lut que foi registrado por satélite pela NASA a temperatura mais alta do mundo, com impressionantes 70o C.
A imagem de nação radical foi implementada após A Revolução de 1979 que instituiu o regime Teocrático, que funciona em forma de República, porém inspiradas nas leis corânicas. O aiatolá Khomeini foi o grande líder dessa revolução que destronou o Xá Reza Pahlavi, que era apoiado pelos E.U.A, e era acusado de secularizar o Irã.

O livro, que faz parte da coleção Povos e Civilizações da editora Contexto, proporciona uma leitura fluente e informativa sobre essa nação, cujo tapetes persas são conhecidos no mundo todo, tem uma admirada escola cinematográfica, que sobrevive, apesar da censura do governo, além é claro da gastronomia rica e saudável.  Recomendo a leitura!

Por Robenilton Carneiro

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Entrevista da Semana: Frei Betto

 

Publicado em http://revistacult.uol.com.br/home/2015/05/a-vocacao-literaria-de-frei-betto/

A vocação literária de Frei Betto

Conhecido por sua atuação política contra o regime militar, o autor de "Batismo de sangue" fala de literatura, política e critica os desvios de rota do PT

Manuel da Costa Pinto

Prestes a completar 71 anos e com sessenta livros publicados, Frei Betto descobriu o amor pela escrita muito cedo, quando suas redações escolares (ou composições, como se dizia à época) fizeram os professores identificarem seu talento – mas só se tornou um autor “graças aos generais brasileiros”.

Integrante da Ação Católica, grupo que se opunha ao regime militar, Carlos Alberto Libânio Christo foi preso duas vezes: em 1964 e no período 1969-1973, quando estava no Rio Grande do Sul e participava de uma rede clandestina formada pelos dominicanos para apoiar os insurgentes.

Dessa segunda experiência, resultaram dois livros de cartas, atualmente reunidas num único volume intitulado Cartas da prisão. Começava a se desenhar aí o perfil do religioso e militante que publicou vários títulos de caráter memorialístico – entre eles, Batismo de sangue, que narra os episódios que levaram ao assassinato do ativista Carlos Marighella e que daria origem ao filme homônimo de Helvécio Ratton.

O cruzamento de atuação política com religião aproximaram Frei Betto do cristianismo progressista dos dominicanos e da teologia da libertação, mas jamais sufocaram sua verdadeira vocação – a literatura. Vocação que foi alimentada pela mãe, Maria Stella Libânio Christo, cristã progressista e autora de livros sobre culinária (entre eles, o clássico Fogão de lenha), e pelo pai, Antônio Carlos Vieira Christo, advogado, cronista e ferrenho anticlerical, que chorou copiosamente quando soube que o filho ia ingressar na ordem dos dominicanos, mas que mais tarde se tornaria “fã da teologia da libertação, de D. Pedro Casaldáliga”, segundo Frei Betto.

Na entrevista a seguir, concedida no convento dos dominicanos, no bairro paulistano de Perdizes, o autor de Minas do ouro fala da preocupação de dissociar a ficção das questões ideológicas – que continuaram presentes em suas intervenções públicas, levando-o a participar do programa Fome Zero, durante o governo Lula, mas não o impedindo de ser um crítico dos desvios de rota do PT e da timidez da esquerda.

CULT – Quando a literatura e a escrita aparecem na sua vida?

FREI BETTO Comecei a escrever muito cedo. Sempre conto que, aos oito anos, quando estava no grupo escolar, minha professora, Dercy Passos, entrou na sala com um maço de composições (belo nome que se usava então para as redações) e, ao fazer a correção, deixou a minha por último. No fim, disse à classe: “Vocês deveriam fazer como Carlos Alberto; ele escreve as próprias composições, não pede para os pais fazerem por ele”. Aí meu ego bateu lá em cima… E mais tarde, no primeiro ano de ginásio, no Colégio Marista, meu professor de português me chamou e disse: “Você só não será escritor se não quiser”.  Só que, para mim, ser escritor era coisa de outro mundo, para gente muito erudita. Foi daí que me meti no jornalismo. Comecei, em 1966, por onde muitos almejavam concluir carreira: a revistaRealidade.

Mas só me tornei autor graças aos generais brasileiros, ao escrever Cartas da prisão – que foram publicadas primeiramente no exterior [com outros títulos e em volumes separados], primeiro na Itália, em 1971, em seguida na França e em outros países. Depois, em 1977, saíram no Brasil.

CULT A experiência política marcou muito sua literatura. Em que momento surge uma ficção “pura”, sem essa preocupação?

FREI BETTO A militância me dificultou muito na ficção, que é o que mais gosto de fazer. Tive de lutar para me desfazer dessa camisa de força. Meu primeiro romance foi O dia de Ângelo, onde ainda havia essa camisa de força, tinha um pouco das minhas experiências em celas solitárias. Depois vieram Hotel Brasil e Minas do ouro – em que me soltei mais.

CULT Essa mudança coincide com o período posterior à queda do muro de Berlim, quando as grandes questões ideológicas declinam. É só depois disso, por exemplo, que você escreve Hotel Brasil, um romance policial. Há alguma relação?

FREI BETTO Até onde consigo enxergar conscientemente, queria enfrentar o desafio de fazer um policial – duplo desafio de criar a ficção e o mistério, conduzir o leitor até o fim sem que ele descubra quem é o assassino. Foi isso que passou na minha cabeça. Não tive a consciência de que, com a crise das ideologias, iria fazer literatura “pura”.

Reservo 120 dias do ano só para escrever. Não são dias seguidos, mas são sagrados. E muitas vezes estou fazendo ficção e fico árido; daí, inevitavelmente, leio Machado de Assis. Ele me reaquece, provoca minha inventividade. Fui um leitor voraz de Jorge Amado e Erico Verissimo, de quem era amigo e que me ajudou a montar uma biblioteca na penitenciária em que estive preso – e fui muito marcado pela literatura francesa, Camus, o Sartre do teatro e de A náusea.

CULT Falando em Jorge Amado e Sartre, que eram escritores muito engajados, como você avalia a esquerda de hoje?

FREI BETTO A esquerda hoje é uma raridade. Conheci muito intimamente o mundo socialista, na Nicarágua, depois em Cuba, onde durante dez anos, entre 1981 e 1991, fiz um trabalho institucional de reaproximação entre Igreja e Estado. Com a queda do muro de Berlim, a esquerda acadêmica, que nunca teve um trabalho popular, foi cooptada pelo neoliberalismo, a ponto de hoje acontecer uma enorme crise econômica na Europa Ocidental e não haver qualquer proposta de esquerda.

O principal problema filosófico hoje é a desistoricização do tempo. Isso se reflete na esquerda mundial, que está perdendo o horizonte histórico (não tem utopia, não tem projeto), e também no plano pessoal – a dificuldade de se ter projeto pessoal na vida profissional, artística, afetiva (todos ficam vulneráveis a qualquer dificuldade na relação conjugal).

Isso está nos levando à falta de esperança, e faz com que a discussão política desça do racional ao emocional. Sempre participei de discussões políticas e nunca vi nível de animosidade tão forte como agora, porque se apagou o horizonte histórico.

Não é fácil ser de esquerda em um mundo tão sedutor quanto o do capitalismo neoliberal. Daí o problema do PT, que foi perdendo o horizonte histórico de um projeto Brasil e trocando-o pelo horizonte imediato de um projeto de poder.

CULT Quando percebeu que o PT abandonou seu projeto inicial?

FREI BETTO Isso desaparece na campanha de 2002, quando o PT faz a opção de assegurar a governabilidade pelo mercado e pelo Congresso – daí as alianças e a “Carta aos Brasileiros”, que na verdade é a “carta aos banqueiros”. Ali, o PT abandona sua matéria-prima, que são os movimentos sociais pelos quais deveria ter assegurado a governabilidade, como fez Evo Morales na Bolívia, que não tinha apoio no congresso, se apoiou nos movimentos sociais e, através deles, conseguiu mudar o perfil do congresso. Hoje, ele tem apoio dos dois, é o presidente mais consolidado de toda essa safra progressista. O PT optou pelo mercado e pelo Congresso. Agora, está refém dos dois e pagando um preço muito alto. Tanto que chamou um homem do mercado para ver se melhora a economia e entregou a parte política para o PMDB.

CULT Se você já havia se decepcionado desde a “Carta aos Brasileiros”, por que participou do programa Fome Zero, do governo Lula?

FREI BETTO Achei que a “Carta aos Brasileiros” fosse uma coisa tática, que, uma vez eleito, o PT faria reformas estruturais, tributária, agrária, algum tipo de reforma. Estava altamente entusiasmado. Sempre fui convidado para trabalhar em administração, mas nunca quis trabalhar nem para a iniciativa privada nem para governos. Gosto dessa vida cigana, solta. Quando Lula foi eleito e me convidou para o Fome Zero, achei que trabalhar com os mais pobres entre os pobres – os famintos – se enquadrava em minha perspectiva pastoral e tive todo apoio de meus superiores dominicanos e até de Roma.

Fiquei dois anos e, de repente, o governo matou o Fome Zero para substituí-lo pelo Bolsa Família. Tive então a certeza de que essa opção contrariava a tudo aquilo que o PT vinha pregando desde a fundação. O Fome Zero era um programa emancipador, o Bolsa Família é compensatório. O Fome Zero ia mexer na estrutura do país e por isso foi boicotado pelos prefeitos. Era coordenado por comitês gestores municipais, não passava pelos prefeitos, não havia como usar os recursos para fazer jogo eleitoreiro, então os prefeitos se rebelaram, pressionaram a Casa Civil, que pressionou Lula. No fim, Lula cedeu e eu caí fora.

CULT Você chegou a escrever que o PT faz “populismo cosmético”.

FREI BETTO O erro do Lula foi ter facilitado o acesso do povo a bens pessoais, e não a bens sociais – o contrário do que fez a Europa no começo do século 20, que primeiro deu acesso a educação, moradia, transporte e saúde, para então as pessoas chegarem aos bens pessoais. Aqui, não. Você vai a uma favela e as pessoas têm TV a cores, fogão, geladeira, microondas (graças à desoneração da linha branca), celular, computador e até um carrinho no pé do morro, mas estão morando na favela, não têm saneamento, educação de qualidade. É um governo que fez a inclusão econômica na base do consumismo e não fez inclusão política. As pessoas estavam consumindo, o dinheiro rolando e a inflação sob controle, mas não se criou sustentabilidade para isso. Agora a farra acabou, está na hora de pagar a conta e chama-se o Joaquim Levy [ministro da Fazenda].

CULT Os católicos de esquerda foram preteridos pelo PT por conta dos compromissos com os evangélicos?

FREI BETTO Lula sempre reconheceu que as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) tiveram mais importância na capilaridade do PT pelo território brasileiro do que o sindicalismo. Nos anos 80, havia núcleos do PT no fundo do Maranhão ou do Amazonas graças a essas comunidades. Enquanto foram atuantes, não havia evasão de fiéis para as igrejas pentecostais. Foi o fato de o Pontificado de João Paulo 2º reprimir as CEBs que fez com que os bispos já não as patrocinassem e que muitas pessoas bandeassem para as igrejas evangélicas.

Nas CEBs, o pobre se sente à vontade. Mas numa igreja, não. Você vai à paróquia e só tem classe média, tem a patroa, tudo é centrado no padre – não há convivência como numa comunidade. Ainda existem as CEBs, mas não com aquela força de antes.

As CEBs produziram muitos militantes, como Erundina, Vicentinho, Chico Alencar. As figuras éticas [do PT] têm uma tradição de igreja. O PT é formado por três segmentos: o pessoal da Igreja, o do sindicalismo e o da esquerda – remanescentes da esquerda da época da ditadura (Zé Dirceu, Paulo Vannuchi etc.). O pessoal das CEBs, por formação pessoal, nunca teve muita gana de poder. Aos poucos, ficaram em segundo plano.

Por outro lado, os evangélicos estão armando uma grande estratégia de domínio da política brasileira, que se resume ao seguinte: “Nossos princípios religiosos exigem determinadas atitudes morais e nós só podemos impor isso de duas maneiras: convertendo toda a nação (o que é impossível) ou tendo o poder de fazer a lei civil obrigar as pessoas a agirem como nós queremos (já que a lei é universal)”. Se você tem a caneta, você transforma seu princípio religioso em lei.

Frei Fernando, Frei Betto, Frei Ivo e Frei Tito (da esquerda para a direita), durante julgamento dos dominicanos em 1971 Créditos: Divulgação

CULT Você vê sinceridade religiosa nessas posturas ou é manipulação de sentimentos reativos dos fiéis?

FREI BETTO As duas coisas. Há os fundamentalistas e há os que são meramente oportunistas. Estes perceberam que aquilo é um manancial de votos. O pastor diz claramente: “o candidato é esse”. Isso não acontece na Igreja Católica – aconteceu lá nos anos 30, com a LEC (Liga Eleitoral Católica), em que o bispo dizia “isso sim, isso não”. Nas igrejas evangélicas, há hoje um direcionamento muito explícito. Muitos políticos estão ali por fundamentalismo, muitos por oportunismo.

CULT Qual sua posição sobre a liberação do aborto?

FREI BETTO Defendo o modelo francês. Tudo deve ser feito pelo Estado para convencer a mulher a não abortar, mas a decisão final é dela. Esse modelo, em primeiro lugar, fez com que acabasse o aborto clandestino e, portanto, diminuísse o índice de mortes. Em segundo lugar, o fato de o médico e o ministro da confissão religiosa da mulher induzirem-na a não abortar aumentou o índice de mulheres que foram à procura do aborto, mas decidiram assumir o filho. Eu mesmo tenho experiência pessoal disso. Já recebi vários adolescentes nessa situação e sempre disse o seguinte: “Tenha o filho e deixe aqui que eu crio, pode deixar na porta do convento”. Nunca ninguém trouxe e hoje tenho uma porção de apadrinhados… Tenho uma posição aberta, acho que aborto em última instância é um direito da mulher e não pode ser criminalizado de jeito nenhum.

CULT Mas isso não vai contra os dogmas da Igreja?

FREI BETTO Não é dogma. Se fosse, a Igreja também teria de ser contra a guerra, não haveria capelão militar e, nos EUA, seria contra pena de morte. Na verdade, há uma ambiguidade na teologia. São Tomás de Aquino aceitava o aborto até quarenta dias após a fecundação, porque ainda não haveria ali, propriamente, uma pessoa – e ele é a doutrina oficial da Igreja. A discussão teológica não está fechada. Tanto que escrevi um texto sobre isso em 1988, que circulou na CNBB, e nunca recebi advertência. Aliás, nesse texto digo que “se homem parisse, aborto seria um sacramento”…

CULT E em relação ao casamento homossexual?

FREI BETTO O fundamento da relação de qualquer ser humano é o amor – e, se há amor, há Deus. O tema da sexualidade e da família está congelado na Igreja Católica desde o século 16. Tentou-se várias vezes abrir esse tema nos concílios, mas ele foi podado. Acho que o papa Francisco, muito inteligentemente, está conseguindo quebrar esse preconceito. Em vez de falar “vamos aceitar o casamento homoafetivo”, ele fala “esses casais têm filhos, as crianças não têm direito à catequese?”. Com isso, já abriu o caminho. Ele acaba de receber no Vaticano um transexual espanhol que foi discriminado pelos bispos e que agora vai casar. Foi um escândalo na Espanha, tanto que dizem que a direita de lá reza assim para o papa: “Senhor, iluminai-o ou eliminai-o”.

CULT Outro tema atual que divide a opinião pública é a redução da maioridade penal. Qual sua posição?

FREI BETTO Criminalizar a juventude é uma maneira cômoda de se omitir naquilo que deveria ser feito para evitar a criminalidade juvenil: dar educação. É o caso das UPPs do Rio: a polícia sobe à favela, mas não sobem escola, teatro, cinema, esporte, música – e o traficante não quer que seu filho seja bandido, quer que ele seja doutor. Uma geração já poderia ter sido salva no Rio se os equipamentos sociais também tivessem subido às favelas.

CULT Como militante e ex-preso político, como vê o clamor pelo impeachment da presidente e pela volta da ditadura?

FREI BETTO Não me preocupam ameaças de impeachment ou golpe. Não há caldo de cultura. Os militares nem saem de farda na rua. Militar, no Brasil, antes andava orgulhosamente de farda, até para arrumar namorada…

O que me preocupa é a despolitização da juventude brasileira. Os segmentos de esquerda deveriam estar preocupados com a politização, como houve imensamente nos anos 70 e 80. Não há mais formação de consciência crítica – e aí o pessoal vai no emocional, no oba-oba da volta dos militares, sem ter ideia do que foi a ditadura, que pode parecer que foi tranquila, mas é porque havia uma censura brutal. Estamos voltando a esse nível de desinformação, a esse horror à política.

Postado por Robenilton Pinto Carneiro

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Livros Que Lí em 2015: Cangaceiros e Fanáticos (Gênese e Lutas), de Rui Facó

Escrito pelo jornalista comunista Rui Facó, o livro Cangaceiros e Fanáticos foi escrito no início dos anos 60 e traz uma análise minunciosa das lutas sociais no Nordeste do país durante a Primeira República e início do Estado Novo.

Para Facó, os movimentos socias e populares no nordeste poderiam ser explicados pela estrutura latifundiaria que sufocava os pobres do campo. Por isso, tanto os movimentos messiânicos (Canudos, A atuação do Padre Cícero, a Revolta de Caldeirão e a Revolta de Pau de Colher), quanto os movimentos socio-culturais (o Cangaço) são oriundus diretos dos monopólios da terra, e da estrutura semi-feudal no nordeste brasileiro.

A Luta de Classe está presente nessa interpretação. De um lado, os Senhores das Terras, latifundiários, que detem o poder político, econômico, em suma, que detem os Modos e os Meios de produção; do outro os Sem-terra, os pobres camponeses,  os explorados, que na ausência de oportunidades, seguem o(s) messias e os virgulinos, coriscos, ….

Outros elementos também contribuem nessa tentativa de entender o fenômeno do cangaço e do fanatismo: a seca, a pobreza e a violência dos sertões. “ Enquanto em face de todo um sistema de exploração e opressão, entre as diferentes reações das massas rurais despossuídas, o cangaço é desde o início um elemento ativo, o misticismo surge como um elemento passivo”.

O livro é um ensaio primoroso sobre esses acontecimentos históricos que mostram o quanto nosso  povo busca lutar por melhorias de vida e de condições sociais, seja em Canudos, Juazeiro, Caldeirão, ou nas caatingas sertanejas nordeste adentro!

Por Robenilton Pinto Carneiro